Com a população brasileira em trajetória de envelhecimento – de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2060, o percentual de pessoas com mais de 65 anos passará dos atuais 9,2% para 25,5%, ou seja, um em cada quatro brasileiros será idoso – e com os sistemas de Saúde e Previdência Social no país em declínio, nunca foi tão necessário se pensar em prevenção. É aí que entra o geriatra, médico especialista em cuidar da saúde, orientar na prevenção do surgimento de doenças ao longo do envelhecimento, com a manutenção de uma vida saudável e ativa.
Segundo a geriatra do Espaço Ativo, Luana Brandão, o ideal é que a prevenção comece antes dos 60 anos, idade em que o acompanhamento com o geriatra já se faz necessário. “Envelhecer começa agora. Por isso, não existe uma ‘ idade certa’ para o paciente vir pela primeira vez ao geriatra. Ele tem de vir, obrigatoriamente, aos 60 anos. Mas antes disso, quando ele perceber alguma modificação no seu corpo e na sua cognição deve procurar ajuda profissional”, explica.
Geralmente, o início do envelhecimento é marcado por modificações naturais como perdas musculares, de flexibilidade, menor disponibilidade para fazer atividades físicas, cansaço, diminuição dos reflexos e o surgimento de manchas e enrugamento da pele. No entanto, é possível chegar aos 60 sem perceber nenhum destes sinais e ainda assim, precisar de acompanhamento médico.
“Algumas pessoas por conta da genética e pelo estilo de vida chegam aos 60 sem os sinais comuns do envelhecimento. É possível chegar aos 60 muitas vezes com plenitude, trabalhando, vivendo a melhor fase da vida. Cada vez mais veremos idosos jovens muito ativos, mas precisamos entender também que o geriatra é o médico que vai garantir a manutenção dessa qualidade de vida e por isso o acompanhamento deve ser feito”, alerta Luana.
Envelhecer ainda é tabu
Para Luana, a resistência em procurar um geriatra é cultural, parte do estigma do envelhecimento e também do desconhecimento da maioria das pessoas acerca dos benefícios deste acompanhamento. “Existe esse preconceito porque as pessoas acham que o geriatra é o médico das pessoas muito idosas, que acompanham somente o declínio da saúde e que nesta fase não há muito a se fazer. A verdade é que as pessoas ficam bem por muito mais tempo quando há o auxílio de um geriatra”, relata.
O que o geriatra faz
Acompanha de forma minuciosa a saúde dos pacientes, onde as consultas tendem a demorar mais do que o de costume, pois além da rotina de análise de exames de rotina, é feita a avaliação de memória, capacidade física e de questões emocionais e sociais.
“Trabalhamos ainda de forma multidisciplinar com outras especialidades e com o objetivo de gerenciar este paciente, faz-se necessário porque, por exemplo, em muitos casos, o idoso acaba sendo acompanhado por muitos especialistas, mas não por um geriatra. Este acompanhamento de vários especialistas pode acarretar no uso de vários remédios, que devem ser monitorados a fim de não haver sobreposição de substâncias e interações prejudiciais” evidencia Luana.
As principais doenças que o geriatra pode tratar são:
– Demências, que causam alterações na memória e na cognição, como Alzheimer, demência vascular ou demência frontotemporal, por exemplo. Entender o que causa e como identificar o Alzheimer;
– Doenças que causam perda do equilíbrio ou dificuldades nos movimentos, como Parkinson, tremor essencial e perda da massa muscular;
– Osteoporose;
– Instabilidade da postura e quedas.
– Confusão mental;
– Dependência para realizar atividades ou imobilidade
– Doenças cardiovasculares (pressão alta, diabetes e colesterol alto);
– Depressão;
– Incontinência urinária;
– O geriatra também está apto a realizar o tratamento dos idosos que têm doenças incuráveis, através de cuidados paliativos.
“Envelhecer vai ser exatamente da maneira que a gente quer”
Obviamente, não existe fórmula perfeita para envelhecer , mas envelhecer bem é possível, destaca Luana, sobretudo, se houver cuidado, que deve começar com a alimentação balanceada, prática de atividades físicas, convívio social e estímulo cognitivo. “As pessoas querem viver muito, mas não querem envelhecer. Elas pensam que vão perder a memória, que vão sentir dor, que terão doenças e isso não pode ser a regra do envelhecimento. O envelhecer vai depender do que fazemos agora. Por isso, digo que é importante estabelecer rotinas de cuidado com a saúde e ir ao médico geriatra faz parte desta rotina. Isso é um compromisso com a vida”, finaliza.